

O número de desaparecidos no Amazonas cresceu 21,5% por 100 mil habitantes em 2022, comparado ao ano anterior. Em 2021, o estado registrou 621 desaparecidos. Esse número subiu para 762 em 2022.
A estatística consta no Anuário de Segurança Pública 2023, publicado no último dia 20, que reúne informações de Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social e do Censo 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Casos de pessoas encontradas caem
Outro dado divulgado é o número de pessoas encontradas. Segundo o anuário, foram encontradas apenas 443 pessoas em 2022. Número abaixo de 2021, quando foram encontradas 478.
Pode não parecer uma diferença tão grande. Mas, se parar para analisar, das 762 pessoas desaparecidas em 2022, 319 ainda não foram encontradas. O anuário não detalha qual a magnitude do desaparecimento e nem se as pessoas localizadas estão vivas ou mortas.

Para Talita Nascimento, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo (USP), o Amazonas assim como os demais estados não apresenta uma forma coesa na hora de registrar as ocorrências de desaparecimento, dificultando entender quais pessoas continuam desaparecidas.
“A Polícia Civil do DF é a única que vincula o registro de desaparecimento ao registro de localização no próprio Boletim de Ocorrência. Em outras palavras, quando uma pessoa é localizada seu registro de desaparecimento é retirado da base e adentra, apenas, nas estatísticas de localização. Dessa forma, a polícia sabe exatamente quem continua desaparecido”, descreveu Nascimento.
’Buscas não são prioritárias’
A pesquisadora pontua que o desaparecimento não consta como crime, então não gera inquérito policial. E, por conta disso, a ocorrência acaba não sendo prioridade para o trabalho da polícia.
“Seu registro é administrativo e provisório, até que a elucidação do caso, ou não, o reclassifique dentro das ocorrências policiais. Neste sentido, uma vez não gerando inquérito, a ocorrência não é prioridade no trabalho policial e, por sua vez, acaba sendo negligenciada por preconcepções que buscam explicar o desaparecimento a partir de algumas hipóteses: morte, prisão, internação e envolvimento com o tráfico de drogas para homens e, para mulheres, o envolvimento com a prostituição ou fuga com o companheiro”, pontuou a pesquisadora.
Nascimento ressalta ainda que se o desaparecimento não envolver questões criminais (como homicídio, feminicídio, sequestro), a responsabilidade passará para os familiares e para assistência social. “É uma questão de família, não de polícia” e, por isso, a ação policial é “desnecessária e improcedente”.
“Isso se reforça no fato de não termos, até o momento, um Procedimento Operacional Padrão (POP) na investigação dos desaparecidos, com exceção ao de crianças, como é o caso do Paraná que não espera 48 horas para iniciar as buscas de crianças desaparecidas”, acrescentou a pesquisadora.
Banco genético
Segundo a pesquisadora, outra estratégia que pode facilitar na busca dos desaparecidos é a análise na identificação dos mortos a declarar. Muitos destes corpos que foram encontrados podem ser de pessoas que estão desaparecidas.