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Igreja na Amazônia: a coragem de denunciar e de colaborar pelo bem dos indígenas

Por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo, celebrado neste domingo (9), dom Pedro José Conti, bispo de Macapá, no Amapá, descreve a situação vivida pelas comunidades locais dentro da Amazônia com a pandemia e os garimpeiros.

“A situação precisa ser contornada, senão pode ser realmente um genocídio, como alguns dizem por aí.”

A declaração é do bispo de Macapá, no Amapá, dom Pedro José Conti, ao descrever a situação vivida nas aldeias com a chegada da pandemia. Alguns povos indígenas, por terem aldeias inclusive bastante isoladas, até conseguiram fechar as entradas do território, comenta o prelado, mas têm outras que, “por situações de própria sobrevivência, necessariamente têm que entrar em contato com outros grupos – como o da cidade, para vender os produtos, como farinha, peixe e frutas”.

“A primeira condição ou causa, podemos dizer, da pandemia também é esta: os índios que viajam. Não é que estão lá fechados o tempo todo, ou vão visitar pessoas, ou vão na cidade, no comércio, no supermercado, no banco também receber algum subsídio. Do outro lado, uma das outras causas que é denunciada aberta e visivelmente também pelos meios de comunicação, é a presença, por exemplo, dos garimpeiros. Essa é a coisa difícil que vão, cada vez mais, entrando na floresta. Os garimpeiros são aqueles que procuram ouro e, é por isso, se espalha a notícia do ouro e vão com tudo, até com as máquinas, abrem estradas. Na maioria das vezes, para não dizer sempre, ilegais, e depois também procuram os indígenas para comprar o necessário para sobreviver lá na mata. Conclusão: também comunicam e podem contagiar os indígenas.”

O que se procura fazer, explica o prelado, é tentar fechar as entradas dos territórios e fiscalizar os garimpos ilegais, já que são vias fáceis para disseminar a pandemia. As aldeias, geralmente estão localizadas no interior da Amazônia, lembra o bispo, e ficam distantes das unidades de saúde. Na necessidade de assistência, explica dom Pedro, quando um indígena se move, “move a família inteira”, gerando mais indícios para propagar o vírus.

A atuação da Igreja

Já aqueles que precisam fazer quarentena e ficam isolados, a Caritas do Macapá tem auxiliado levando e entregando cestas básicas, seguindo todas as normas indicadas pelas autoridades sanitárias. Mas Dom Pedro traça um cenário difícil na Amazônia para ajudar os povos indígenas ameaçados, agora também pela pandemia, mas desde sempre pela propaganda do lucro:

“Como Igreja nós devemos insistir, insistir, porque não é fácil. E, do outro lado, tem a propaganda do lucro, das vantagens que dão, por exemplo, as plantações da soja. Parece que hoje a resposta aos problemas das dificuldades econômica e financeira de um país seja derrubar a mata e plantar a soja: ‘ali resolve todos os problemas’. Esse é o maior engano, porque sabemos e já estamos percebendo, pela própria situação climática, o que que está acontecendo. Por exemplo, a mata que pega fogo. A chuva vem da Amazônia e já entendemos que manter a floresta de pé é necessário pela saúde de todo mundo, não só dos povos indígenas, mas da nossa Casa Comum. Mas o que podemos fazer como Igreja é lembrar as palavras do Papa, lembrar as palavras do Sínodo da Amazônia e nos convencer que o que parece ganho agora, que é lucro – vamos plantar, ganhar, faturar que o dólar é bom, é alto -, na realidade, daqui a alguns tempos, com alguns sinais desde já, estamos pagando muito caro tudo isso, porque faltando chuva, não só pega fogo a mata, as florestas e os campos, mas também o reservatório de água também vai faltar água na cidade.”

Dom Pedro finaliza:

“É fundamental que a Igreja tenha coragem também, não só de denunciar, mas de colaborar com quem de fato está cumprindo com as obrigações e deveres, ajudando para poder diminuir o impacto que está se tornando cada vez mais perigoso e prejudicial para própria Amazônia.”

Por Silvonei Protz, Andressa Collet - Vatican News
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