Faleceu nesta segunda-feira, 15 de setembro de 2025, na Casa do PIME em Rancio di Lecco, o missionário italiano Padre Benito Di Pietro, aos 89 anos. Sacerdote do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME), ele dedicou mais de cinco décadas de sua vida à evangelização e à promoção social na Amazônia, especialmente em Parintins e Nhamundá, no Baixo Amazonas.
Nascido em 25 de agosto de 1936, em Capadócia, província de L’Aquila, na Itália, ingressou no seminário ainda adolescente, inspirado pelo exemplo missionário de familiares e de um bispo local. Em 4 de abril de 1962 fez seu juramento no PIME e, no ano seguinte, foi ordenado sacerdote em Gaeta. Após breve atuação pastoral em Ducenta, partiu em 1967 para o Brasil, atendendo a um convite de Dom Arcângelo Cerqua, primeiro bispo da Diocese de Parintins.
Sua primeira missão foi em Nhamundá, onde, como vigário coadjutor e depois pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, permaneceu por mais de 15 anos. Lá, ganhou o carinho da população e deixou obras importantes na educação e na assistência a crianças e famílias.
Em 1990, assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Parintins, onde ficou conhecido como “pai das obras sociais”. Criou o projeto “Adoções à Distância”, que chegou a apoiar 2.700 famílias, fundou comunidades de base, construiu e reformou igrejas e fundou iniciativas como a Casa de Acolhida Santa Rita e centros educacionais voltados para crianças e adolescentes.
Mais tarde, em 2005, foi designado para a paróquia do Sagrado Coração de Jesus, continuando sua atuação social e pastoral, com atenção especial às populações indígenas. Para elas, viabilizou a criação de escritórios voltados à defesa de seus direitos e promoção do bem-estar.
Em 2012, seu trabalho foi reconhecido oficialmente com uma honraria concedida pela Prefeitura de Parintins, como símbolo da gratidão da cidade ao sacerdote.
Por questões de saúde, Padre Benito retornou à Itália em 2016, sendo acolhido na Casa PIME Beato Giovanni Mazzucconi, em Rancio di Lecco, onde faleceu nesta segunda-feira.
O funeral será realizado nesta terça-feira, 16 de setembro, às 15h30 (hora Itália), na Casa PIME em Lecco. Na quarta-feira (17), o corpo será transferido para Campli, província de Teramo, onde será sepultado no túmulo da família após uma última celebração no dia 18.
Repercussão na Amazônia
A notícia da morte do missionário gerou grande comoção em Parintins e Nhamundá. Fiéis, ex-colaboradores e lideranças religiosas destacaram o legado espiritual e social deixado por Padre Benito.
O bispo emérito de Parintins, dom Giuliano Frigeni, recordou momentos da trajetória do padre Benito, destacando sua entrega ao trabalho missionário e à solidariedade. “Até o fim, ele se dedicou totalmente às paróquias e também a esta forma que ele tinha de ser um benfeitor direto. Ele tinha dezenas de cadernos, com o nome de todos os meninos, com o nome do pai e da mãe. E quando chegava lá no Pime, na Itália, dizíamos lá, avisávamos os que ajudavam nele a ajudar estas crianças. Ninguém conseguia fazer aquilo que ele fazia”.
O pároco Padre Luiz Carlos afirmou que a Diocese perde um dos grandes visionários da fé e da ação social, que soube evangelizar não apenas com palavras, mas com obras de amor e acolhimento. “E sempre fez isso porque ele gostava de acolher as pessoas, gostava de ver com que Cristo pudesse ser anunciado de uma forma justa, de uma forma amável, de uma forma em que pudesse ver não só nas palavras, mas também nas obras. Então, Padre Benito Di Pietro foi essa pessoa que passou pelas nossas terras e de forma particular na paróquia Nossa Senhora de Lourdes”.
A ex-secretária paroquial Ruth Fragata, que conviveu por anos com o sacerdote, lembrou o exemplo de fé prática. “Ele está contemplando a face de Deus, provando o amor misericordioso de Deus, o qual ele sempre tentou demonstrar, fazer em gesto concreto. Contou com os mais necessitados, que sempre se apresentavam diante da vida dele, sempre foi um homem de serviço, um homem de muita fé. Foram anos de convivência em que eu aprendi muitas coisas”, relatou Ruth.
Para o agente de pastoral Raimundo Gracival, Padre Benito foi pai das obras sociais e deixou um exemplo de dedicação às comunidades mais distantes. “Ele tinha esse olhar carinhoso, o olhar voltado às crianças na época, tinha aquelas assistências da Itália e ele tinha todo esse carinho, onde também ele teve um trabalho muito bonito na nossa paróquia, na época o Uaicurapá, Mamuru, setor Tracajá, onde ele também construiu muitas obras organizando os trabalhos pastorais aqui da nossa paróquia. Padre Benito é o exemplo do seu sim ao seu sacerdócio”.
Já o integrante do Coral de Lourdes, Jair Almeida, destacou que ele era mais do que um administrador, era um homem humano, um amigo do povo, um verdadeiro diretor espiritual. “Eu acompanhei o Padre Benito durante anos, mais de 15 anos, quase 20 anos. Fizemos um trabalho missionário em toda a paróquia de Lourdes, incluindo a área do Mamuru, Uaicurapá, Tracajá, dezenas de comunidades onde nós andávamos palestrando, na época que trabalhamos juntos na teologia. E eu pude acompanhar de perto o exemplo missionário que esse homem deixou para todos nós, um verdadeiro diretor espiritual”.
A Adelaide Viana, ex-diretora da Casa de Acolhida Santa Rita, instituição que trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, também manifestou pesar. “Junto a ele foram anos de convivência, através do trabalho social que ele realizava na casa de acolhida, desde a construção da casa de acolhida, um trabalho maravilhoso que ele deixou nessa cidade para as famílias, para os jovens, para as crianças, e dentre outros trabalhos que ele tinha também na comunidade, na cidade, no interior”.
Em nota, a Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Nhamundá, lamentou o falecimento do sacerdote que atuou por 16 anos naquele município.
A Associação Boi Bumbá Caprichoso, do qual padre Benito era apaixonado torcedor, divulgou nota de pesar.
A Prefeitura de Parintins, também, divulgou uma nota de pesar pelo falecimento do missionário italiano.
- Por João Carlos Moraes / Alvorada Parintins