Notícia do dia 16/07/2021
Era por volta das 15h e 30 minutos quando o povo católico começou a concentrar-se na Praça da Catedral para a Carreata da Festa em honra da Nossa Senhora do Carmo. A manifestação religiosa, ocorreu nesta sexta-feira (16) para marcar de forma simbólica, pelo segundo ano consecutivo, a tradicional procissão dedicada a padroeira da Ilha Tupinambarana.
A pandemia, ainda que com números reduzidos na cidade, em dados de novos diagnósticos, internações e óbitos, impossibilitou que os devotos realizassem o trajeto tradicional e seguissem a imagem da santa com pés descalços e velas nas mãos, como de costume. Apesar disso, o povo compareceu e lotou a Avenida Amazonas, no Centro, com bicicletas, motos, triciclos, carros, caminhões, sem descuidar do uso obrigatório das máscaras, conforme solicitado pela coordenação da festa.
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Foto: Liam Cavalcante[/caption]
O sol já se despedia no horizonte do Rio Amazonas e o templo católico, a imponente Catedral de Parintins, que para muitos divide a cidade, hoje uniu a todos. Idosos, adultos, jovens, crianças, homens e mulheres chegaram cedo para garantir um lugar próximo ao altar. Neste ano, a igreja recebeu metade da capacidade dos fiéis para que fossem cumpridos os protocolos sanitários. Às 17 horas, a padroeira seguiu seu itinerário, em direção a comunidade São Benedito. Incontáveis fiéis a seguiam e nas casas, moradores faziam questão de acenar e pedir pela intercessão da Virgem do Carmo.
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Foto: Liam Cavalcante[/caption]
Na paróquia de São José Operário, o encontro entre a Mãe e o pai adotivo de Jesus, figuras centrais da fé católica, neste ano ganhou um simbolismo maior ainda, em virtude da instituição, pelo Papa Francisco, do ano dedicado ao santo carpinteiro, patrono da Sagrada Família. A expressão desse sentimento fica muito claro nas palavras da devota Graça Macedo, de 70 anos, que mora nas proximidades da paróquia de São José Operário. “É um momento muito forte, principalmente por este contexto que todos nós estamos passando (pandemia) e que graças a Deus está mais tranquilo agora. Fico mais feliz ainda quando lembro de São José nosso pai adotivo e Maria nossa mãe, que junto a Jesus foram este exemplo de família para o povo católico”, ressalta.
Após passar pela Paróquia de São José era possível notar o começo da carreata, onde quem guiava era Nossa Senhora, mas o final? O último devoto? Foi impossível registrar, tamanha era a manifestação que as ruas pareciam braços do Rio Amazonas, um rio de fé, de devoção. Antes de chegar à Paróquia de São Sebastião, na Avenida Geni Bentes, cerca de vinte crianças da comunidade Santa Luzia do Macurany formavam um Céu na Terra, todas vestidas de anjo, sob o olhar atento da coordenadora Gleicimara Medeiros. “É uma demonstração de carinho por Nossa Senhora. Essas crianças participam todos os anos da coroação de Maria e hoje elas estão aqui nessa declaração de amor e gratidão pela vida”, enfatiza.
Após São Sebastião, a carreata seguiu para a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, onde uma salva de fogos saudou a imagem da Mãe do Carmo. Em direção ao Sagrado Coração de Jesus, mais devotos somavam ao rio de fé que rumava em direção ao povo, abençoando lares e renovando a fé de milhares. No Mural da Fé, no Colégio Nossa Senhora do Carmo, mais emoção. A protetora dos artistas foi ovacionada com fogos, luzes, cantos e bandeiras. Na fala de cada um deles um voto de agradecimento, pelo auxílio e fortaleza durante o período mais desafiador de suas vidas, conviver com o calendário cultural totalmente paralisado em virtude da pandemia.
Um pouco mais a frente, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, um altar com a Sagrada Família foi formado por crianças que começam a entender a importância central da Festa do Carmo para o fortalecimento da espiritualidade cristã nesta terra, como ressalta a paroquiana Socorro Lopes. “É importantíssimo a gente ter hoje a presença de José, Maria e Jesus. É com muita emoção que reunimos nossas crianças para celebrar este dia tão especial, e ainda que de forma simples nossos pequeninos já se destacam bastante, principalmente com o trabalho de cênica feito na comunidade de Santa Clara”, pontua.
Como último ato antes de chegar na Catedral, os trabalhadores portuários mantiveram a tradição com os fogos de artifício no Terminal Hidroviário da Cidade. Era por volta das 18 horas e 40 minutos quando a imagem desceu a Praça da Catedral e foi conduzida até o altar pelos padres e diáconos que atuam na Diocese de Parintins, das cidades de Maués, Boa Vista do Ramos, Barreirinha, Parintins e Nhamundá.
Dom Giuliano Frigeni, bispo da Diocese de Parintins, presidiu a missa solene. Em sua homilia, destacou o papel fundamental da Sagrada Família que tinha na pessoa de São José a fortaleza da casa. A reflexão do novenário deste ano foi embasada no tema “Maria, esposa de José, Mãe e auxílio dos Cristãos”, e no lema “Salve, guardião do redentor! Mostrai-vos pai também para nós”, inspirados no ano de São José, instituído pelo Papa Francisco.
Para as pessoas que não conseguiram entrar na Catedral, um telão foi montado na Praça da Matriz e milhares de devotos não arredaram o pé, rezaram sim do lado de fora. O Sistema Alvorada de Comunicação, emissora católica que há 53 anos carrega como missão levar o Evangelho de Jesus Cristo à toda a Amazônia, fez-se presente durante mais este momento singular da fé do povo parintinense, com transmissão ao vivo pela Rádio e TV Alvorada Parintins.
Até aqui, palavras de alguém que ainda não consegue decifrar o sentimento que o povo da ilha de Parintins tem por Maria e que deixa como inquietação, uma pergunta: “Como não se apaixonar por Nossa Senhora do Carmo?”.
Por Marcos Felipe Rodrigues