Neste mês de agosto a Igreja Católica recorda e reza por todas as vocações, tendo como tema: Igreja: uma sinfonia vocacional, e o lema: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe” (Mt 9,38)
No primeiro domingo, a vocação ao Ministério Ordenado, a Igreja convida a rezar por todos os diáconos, padres e bispos para que sejam perseverantes na vocação.
O segundo domingo do mês é dedicado à vocação da família e à paternidade, recordando o Dia dos Pais.
Ao longo da semana o cristão católico é convidado a refletir sobre a importância da família na sociedade e como cada família pode ser sinal da presença de Deus para o mundo.
No terceiro domingo do mês a atenção é voltada à vocação à vida religiosa e consagrada, os religiosos animam a vida da Igreja e ajudam em diversas pastorais nas inúmeras paróquias. Muitos religiosos também estão à frente de escolas, hospitais e casas de acolhida.
Na continuidade à Roda de Conversa, do mês de agosto, no programa Ciranda da Cidade, na sexta-feira, 16 de agosto, a convidada foi a Irmã Valéria Opreni que pertence à Congregação Irmãs Missionárias da Imaculada, com 52 anos de vida religiosa, natural de Monza, Itália, e está há dois meses na Diocese de Parintins.
A Irmã Valéria conversou com o jornalista Neudson Corrêa, onde destacou sua vinda ao Brasil para cumprir sua vocação e também como surgiu a vida religiosa.
Irmã Valéria comentou sobre o discernimento vocacional, o caminho em busca de maturidade humana, intelectual e espiritual, abrindo-se ao autoconhecimento, direção espiritual e conhecimento da congregação. A religiosa ressalta como os jovens sabem que têm vocação para a vida religiosa.
Na entrevista concedida no programa Ciranda da Cidade também fez questão de destacar a funcionamento dos institutos religiosos, local onde as pessoas vivenciam um carisma particular de seguimento a pessoa de Jesus Cristo, pelos votos de pobreza, obediência e castidade.
A formação nas demais congregações religiosas foi um dos assuntos abordados pela religiosa da Congregação Irmãs Missionárias da Imaculada.
Foto: Lucely Monteiro
NEUDSON CORRÊA: Bom dia Irmã Valéria. A senhora é uma missionária que veio de outro país, e então conte-nos como surgiu a sua vocação, e como sentiu o chamado a vida Religiosa?
IRMÃ VALÉRIA: Sou caçula de 8 filhos. A minha família era praticante, favorecida pela proximidade da Igreja que ficava bem ao lado da nossa casa. Toda noite, durante a semana, rezávamos o terço em família. A minha mãe iniciava o dia participando da Missa às 6h e, muitas vezes, ia com ela. Quando era criança, o meu pai, aos domingos, me levava com muito orgulho, para participar da Missa solene às 10h, toda cantada em latim, pois ele adorava cantar.
A minha vocação começou muito cedo. Gostava muito da liturgia, não só da missa; das vésperas cantadas em latim (na tarde dos domingos, antes do Vat. II); da adoração e das novenas em certos períodos do ano.
Três fatos me marcaram profundamente e determinaram minha resposta vocacional:
* O exemplo de vida de minha mãe foi determinante! Lembro certa vez que a Prefeitura estava construindo, outra casa na frente da nossa. Os pedreiros eram quase todos do sul da Itália e ficavam morando num galpão próximo do dos materiais. Um deles adoeceu com febre muito alta e o galpão deles, no inverno, não era aquecido. Então o acomodamos na sala de estar da nossa casa e a mamãe cuidou dele até ficar bem.
* Quando era adolescente, uma vez por mês no domingo, depois da missa das 8h, levava às famílias assinantes as revistas missionárias. A mãe de uma catequista estava com os pés de molho numa bacia e, de instinto, perguntei se podia lavar os pés dela: ela me sorriu e eu fiz aquilo com tanto carinho que ela ficou emocionada. Esse gesto me deu muita paz e alegria interior! Eu na época percebi isso e ficou como cravado na minha mente...
* Em outubro de 1968, no Dia Mundial das Missões veio em nossa paróquia um missionário do PIME para falar da sua missão na Índia e a faísca pegou fogo em mim! “Logo resolvi: é isso que eu quero pra mim!”. Desde que tomei essa resolução, uma grande paz tomou conta de mim.
NEUDSON CORRÊA: O discernimento vocacional é um processo que deve acontecer em oração, caminhando em busca de maturidade humana, intelectual e espiritual, abrindo-se ao autoconhecimento, direção espiritual e conhecimento da congregação, diante disso, como os jovens sabem que têm vocação para a vida religiosa?
IRMÃ VALÉRIA: Sim, como lemos na Bíblia a vocação dos profetas, Deus se serve de mediações, de pessoas, de fatos e outros sinais para nos chamar. Mas o meio mais comum são a escuta atenta da Palavra de Jesus, a meditação do Evangelho, a frequência aos sacramentos, a oração pessoal e os gestos de solidariedade aos necessitados, nossos e dos outros irmãos e irmãs, que nos ajudam a descobrir o quanto a pessoa de Jesus é fascinante. Fazer o bem faz bem! Semear o amor e a felicidade que nos vem de Deus, traz, para nós em primeiro lugar, muito fruto. Tudo isso, unido ao estudo e a escuta da Igreja (palavra e documentos do Papa e dos nossos bispos e padres) nos ajuda certamente a alcançar aquela sabedoria que é dom de Deus e favorece a nossa liberdade interior, a nossa maturidade humana, intelectual e espiritual. Essa sabedoria é em total oposição à sabedoria do mundo baseada nos ídolos do poder, do sucesso e do ter.
NEUDSON CORRÊA: Os Institutos Religiosos são basicamente um grupo de pessoas que vivenciam um carisma particular de seguimento a pessoa de Jesus Cristo, pelos votos de pobreza, obediência e castidade. Por que existem tantas congregações religiosas no mundo?
IRMÃ VALÉRIA: Todas as ordens e institutos religiosos nasceram para responder a um desafio social. Um exemplo bastante recente foi o de Madre Teresa de Calcutá. Ela ingressou na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto e foi enviada na Índia como professora numa das escolas delas. Ao perceber tanta miséria, tantas pessoas sem condições de vida digna e um homem doente abandonado na rua, com a mão estendida e afirmando ter sede, ela viu nele o pedido de Jesus na cruz. Nasceu assim nela o forte desejo de dedicar-se inteiramente a socorrer os últimos da sociedade e, deixando a sua, fundou a Congregação das Irmãs da Caridade.
A nossa Família Missionária tem como carisma a viva paixão pelo anúncio do Evangelho a todos os povos, especialmente aos não cristãos e está presente nos cinco continentes. Foi fundada na Itália no ano de 1936 por inspiração do carisma do PIME, bem conhecido aqui em Parintins. Somos missionárias enviadas além-fronteiras: geográfica e culturais, e missionárias para sempre. Queremos seguir Jesus que foi semeador incansável da Palavra de Deus e foi também semente que morre para dar a vida a todos nós. Queremos testemunhar o imenso amor de Deus manifestado pela vida, paixão, morte e ressurreição de seu Filho Jesus.
NEUDSON CORRÊA: A formação varia de Congregação para Congregação, no Código de direito Canônico é pedido como tempo obrigatório o tempo de formação, intitulado de Postulado e Noviciado, que deve ser antecedido de um tempo de preparação, e seguido por um tempo apostólico mais intenso antes da profissão dos primeiros votos. Quanto tempo os jovens precisam para tornar-se um religioso?
IRMÃ VALÉRIA: Numa das nossas comunidades temos atualmente uma jovem que estará por três meses fazendo uma experiência que chamamos, referindo-nos ao Evangelho de João, de ‘Vem e Vê’. Depois desta experiência vem o período do Pré-noviciado, que dura dois anos e o Noviciado, também de dois anos, que visa mais diretamente o conhecimento do carisma que consiste no estudo da constituição do Instituto e da experiência apostólica numa das nossas presenças.
NEUDSON CORRÊA: Para finalizar nossa conversa, no dia de ontem a Igreja celebrou a Solenidade da Assunção de Maria exemplo para a Vida Consagrada. Qual a sua mensagem para os jovens que estão em processo de discernimento vocacional.
IRMÃ VALÉRIA: Em Maria, a mulher cheia de graça, todos nós batizados contemplamos a realização da esperança que somos chamados a anunciar ao mundo. A nova criação, o projeto do Pai para toda a humanidade resplandece em primeiro lugar em Maria. Com a sua resposta incondicional à graça de Deus, Ela torna-se exemplo luminoso da santidade à qual todos somos chamados. A certeza de sua proteção e intercessão infunde em nós a coragem do anúncio e nos sustenta na obra da evangelização. Maria, a toda bela, a primeira missionária, nos recorda continuamente que a nossa vocação é a mesma que a sua: doar Jesus ao mundo. Ela sempre nos convida a ‘fazer o que Ele, o seu Filho Jesus, nos disser’.