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Rádio Alvorada de Parintins; mais de meio século de história integrando a Amazônia

A trajetória da emissora católica, nesses anos todos, se confunde com o desenvolvimento da cidade

Rádio Alvorada de Parintins; mais de meio século de história integrando a Amazônia Foto: Departamento de Jornalismo Notícia do dia 01/10/2024

Por Neudson Corrêa

A Rádio Alvorada, primeira emissora integrante do Sistema de Comunicação da Diocese de Parintins, completa 57 anos neste dia 1º de outubro. Grupo que também é formado pela Rádio Alvorada FM 100,1 MHZ, rádio online, TVs e Redes Sociais, todas com a mesma filosofia de trabalho: educar, informar e evangelizar. 

A trajetória da emissora católica nesses anos todos se confunde com o desenvolvimento da cidade. São anos de interação com sua gente, que aprendeu a amar esta estação radiofônica, criada pelo primeiro bispo, Dom Arcângelo Cerqua.

O tempo passa e a Rádio Alvorada vai se reinventando no tempo. As projeções para o futuro estão sempre de acordo com os preceitos estabelecidos pela direção e colaboradores.

Nascida no período da ditadura militar, quando a imprensa foi alvo da censura durante o golpe civil-militar de 1964, que assumiu múltiplas formas: a lei imprensa de 1967, a censura prévia, em 1970, a autocensura, a programação seguiu seu rumo para integrar a região por meio das ondas sonoras da RA e, dessa forma, tirar as comunidades do isolamento.

A diretora, jornalista Lucely Monteiro, há cinco anos à frente da maior emissora do interior da Amazônia, sabe bem como encarar o desafio para os próximos anos.

Em um ambiente voltado, cada vez mais, para as mídias sociais, a diretora explica que a postura que a empresa assumiu desde a sua origem, em 1º de outubro de 1967, com um trabalho sério, de qualidade, compromisso com a verdade dos fatos, dando voz e vez aos ouvintes, e o compromisso da parceria com seus anunciantes e colaboradores, é o que mantém a grande Pastoral da Comunicação da Igreja Católica local.

“A Rádio Alvorada está consolidada, tem clareza da missão para a qual foi criada, não perdeu seu objetivo. São 57 anos dedicados em levar a boa música, a informação com responsabilidade e sobretudo, transmitindo a mensagem de Jesus Cristo por meio dos programas. É uma Rádio presente na vida da comunidade, consegue estar nos principais eventos da cidade e da região. Hoje, a Rádio tem um longo alcance em suas ondas sonoras, tem credibilidade e é uma emissora respeitada. Ao longo dos anos nos firmamos neste solo e isso nos encoraja e nos dá a certeza que esta missão da Rádio Alvorada será muito promissora nos anos que ainda virão. A cada tempo tem seus desafios, como sabemos e acredito que com fé e coragem estaremos vivendo cada novo ano com a certeza de que Deus sempre abençoa esta missão da comunicação nesta cidade que é a Rádio Alvorada”, relata.

Ao longo dos anos a Rádio Alvorada tem se firmado no âmbito regional e isso encoraja seguir com a missão de informar, educação e evangelizar.

De acordo com Lucely Monteiro, os desafios são grandes, principalmente em um ambiente com predominância das novas tecnologias, com a Internet persuadindo ainda mais seus internautas a voltarem-se aos seus conteúdos, a rádio vai encontrar formas de encarar o futuro.

“A Rádio Alvorada está sempre se reinventando para acompanhar o progresso do mundo das tecnologias, busca novos meios e modos para estar presente. Atualmente, investiu em equipamentos como forma de melhorar os trabalhos, principalmente porque hoje há um crescimento muito grande de rádios, exclusivamente online. Mas também vale lembrar que existe o ouvinte para as rádios on line e o ouvinte do rádio físico. Ainda temos muitos ouvintes que sintonizam pelo rádio a pilha. Então é pensando nesse ouvinte que procuramos melhorar a cada dia. Mas é preciso conhecer o chão onde se pisa. Nosso foco como rádio é o nosso povo, o amazônida, o caboclo que não tem acesso à internet, pois essa é uma realidade nossa nem todos. Nem todas as pessoas da nossa região usufruem dos benefícios da internet. Por isso, essa necessidade de estar acompanhando esse avanço a cada dia”, frisa.

Lucely ressalta que, apesar de parte do público migrar para a rádio online e outras mídias, mesmo assim o saudosismo ainda está presente da vida do parintinense e jamais vai abandonar uma tradição de mais de meio século.

“Os ouvintes da Rádio Alvorada podem esperar uma rádio madura, convicta de sua missão. Uma Rádio que já ultrapassou inúmeras barreiras e dificuldades, mas hoje só tem a agradecer seus ouvintes e parceiros pela confiança de todo dia. Uma Rádio cada vez mais comprometida com a vida e com as causas da comunidade. A Alvorada que é referência de Rádio, que toca a vida da gente é a Rádio parceira, a Rádio de todo dia. Então, o ouvinte pode continuar sintonizando a Alvorada porque ele estará presente nessa Rádio todos os dias”, pondera.

Para Lucely, os desafios são incalculáveis e a população pode esperar uma Rádio Alvorada cumprindo seu papel, sua trajetória, e acima de tudo sendo grata aos seus parceiros e parceiras. 

Parceiros incondicionais

Com o advento da internet a rádio adaptou-se às novas ferramentas de trabalho. Quando muitos diziam que o Rádio iria ficar fadado ao esquecimento, que iria ficar obsoleto, a convergência digital a tornou ainda mais acessível de todos.

Atualmente, a rádio online, inserida no Site Alvorada Parintins, é acompanhada por internautas em todo o Brasil. Exemplo dessa pujança que emana do coração da floresta amazônica é a atenção dispensada para com os locutores, por exemplo, a do paulista Nelson Luiz Marinheiro.

Nelson é um aposentado que conhece a programação da Rádio Alvorada, interage com os locutores nos demais programas e os consideram amigos. Apesar da distância, o internauta faz questão de compartilhar os eventos, como o aniversário, que ocorre neste dia 1º de outubro.   

A Rádio Alvorada faz parte da história de milhares de pessoas, anônimos, humildes, afortunados, intelectuais, religiosos, leigos, leigas, que acompanham diariamente a notícia, a música e o entretenimento.

O funcionário público estadual, Giliard Marinho, 42 anos, conta que acompanhava o jornalismo para ficar bem informado sobre as notícias da cidade e pela programação variada, composta por músicas de todos os gêneros, e por eventos culturais, esportivos, de lazer e festivos.

Giliard destaca sua admiração pelos editoriais, veiculados diariamente no Jornal da Amazônia, e que permanecem nos dias atuais, mas de forma esporádica, sempre que um fato chamar atenção. O gênero jornalístico tem o papel de emitir opinião do veículo de comunicação para determinado assunto.

O parintinense ressalta a importância da Rádio Alvorada, com seus programas jornalísticos e de entretenimento, por meio da música, tão contributivos para o desenvolvimento da cidade.

“Eu ouvia muito a Rádio Alvorada, principalmente no tempo em que eu estudava o ensino médio e fundamental porque antes de ir para escola, antes de ir para o colégio, sempre no horário de meio-dia, tinha o Jornal da Amazônia. Então, naquele intervalo de almoço, de tomar banho, de se preparar para ir para escola eu sempre ouvia muito a Rádio Alvorada para ficar informado da notícia e lembro muito bem que tinha um editorial”, destaca.

O nhamundaense Manuel Ramos Fonseca, 68 anos, mas parintinense por opção, considera-se um fã incondicional da Rádio Alvorada. Essa boa relação já dura mais de 50 anos, desde quando ainda morava no município do extremo Amazonas, a terra das Ycamiabas. O seu passa tempo era ouvir a RA.

Seo Careiro, como é conhecido popularmente em Parintins, porém sem qualquer relação com o município da região metropolitana de Manaus, muito menos com a prática comercial que exerce em seu box, em um dos anexos na antiga Praça Eduardo Ribeiro. Careiro, é só no agrado dos amigos e admiradores.

“Desde quando vim para cá eu ouço a Rádio Alvorada. A gente ouvia direto, ouvia todos os programas para curtir as músicas. Vamos ouvindo os programas, passando de um para outro e vai falando para os amigos. Gostava de ouvir o esporte, era muito bom. Lembro do tempo do Nelson Brilhante que fazia aquelas programações quando trazia times de Santarém e Itacoatiara. Era muito bom, mas agora, essa juventude que tá entrando agora aí, eu estou sentindo que está voltando aqueles tempos bons, a parte de musical. Tá muito bom de tarde com o Rodrigo Amazonas. Ele é bem comunicativo. E gente curte também o nosso amigo Neudson Corrêa, que há muito tempo a gente conhece. É nossa gente!”.

Thiago Pereira Araújo, 16 anos, aluno da Escola Estadual Tomaszinho Meirelles, considera importante o trabalho da Rádio Alvorada para a sua vida e para a população, pelo caráter informativo, evangelizador e de entretenimento.

Mesmo com a Televisão promovendo a difusão de seus programas, seja em canal aberto ou fechado, Thiago reconhece a importância do rádio, culturalmente ou mesmo para manter a tradição do rádio.

“Antigamente, eu escutava muito rádio quando morava no interior. Escutava as historinhas, as notícias, e isso era muito ouvido. Hoje, a gente não vê tanto isso pelos jovens de hoje. Mas o rádio é importante porque ainda tem gente que reconhece esse valor da rádio. Então, é muito importante manter essa tradição, manter essa cultura que a gente tem aqui do Parintins e isso é um ponto muito precioso para nós”, argumenta.

O professor da Escola Tomaszinho Meireles, Ítalo Ferreira, acompanhado de um grupo de alunos que esteve no interior da emissora para um trabalho de pesquisa de campo, especificamente nos arquivos do Jornal Novo Horizonte, ressalta o legado cultural da Rádio Alvorada para Parintins.

“Eu entendo que mesmo que com todas as tecnologias, com todos os aplicativos, a Rádio ainda bate a porta de muita gente, em lugares muito distantes. Por exemplo, o meu pai mora em uma comunidade rural muito distante e lá ele escuta a Rádio Alvorada. São pessoas que não tinham letramento, mas eles tinham uma comunicação direta, fácil, objetiva e que tinha respeito ao público. Então, acredito que a contribuição da Rádio é essa, não só o prédio em si, porque o legado da Diocese de Parintins com o sistema de comunicação é mais no sentido cultural”, completa.