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Pai Francisco e Mãe Catirina: folclore e militância no Festival de Parintins

Valorização do negro no festival

Pai Francisco e Mãe Catirina: folclore e militância no Festival de Parintins
Tudo começou pelo desejo de uma mulher preta, intitulada de Catirina, movida pela vontade de comer a língua do boi preferido do dono da fazenda, onde seu esposo, o Pai Francisco, trabalhava. Catirina estava grávida e pediu ao marido, que saciasse esse desejo. Pai Francisco atende o pedido e mata o boi. O dono da fazendo, conhecido por Amo do boi, não aceita a morte e busca o pajé para ressuscitar o animal. Após a ressurreição, o Amo oferece uma festa e perdoa o casal. E por meio dessa lenda, que tem origem no Bumba Meu Boi, manifestação folclórica nordestina, surge o Festival Folclórico de Parintins.   [caption id="attachment_30593" align="aligncenter" width="298"] foto: Divulgação[/caption] Os personagens do auto do boi, sempre apresentavam em festivais passados, características caricatas. Mas foi em 2019, a pedido dos jurados, que o Pai Francisco e Mãe Catirina tiveram uma atenção especial. Caprichoso e Garantido foram alertados a respeito do “Blackface”. Do inglês, black, "negro" e face, "rosto", a prática consiste na pintura da pele com tinta escura. No Festival de Parintins, eram tradicionalmente representados por pessoas brancas pintadas de preto. O fato não passou despercebido pelos jurados em 2019, que pediram aos dois bois que repensassem a prática nas próximas edições do Festival, uma vez que ambos levam mensagens de respeito a todos os povos. [caption id="attachment_30589" align="aligncenter" width="1200"] foto: Divulgação[/caption] Para Ádria Barbosa, a personagem Mãe Catirina foi um presente do Boi Caprichoso. Ela comenta sobre a experiência de viver a personagem que marcou a sua vida.
“Eu digo que a mãe Catirina é um grande presente na minha vida desde 2017, quando eu recebi o convite. A princípio, ela é uma virada na minha vida, uma virada de chave. Era uma emoção muito grande para mim, poder está brincando de boi, mas com o tempo, quando essas discussões foram começando a ficar cada vez mais latentes, tentar entender os questionamentos do desfigurar a mim mesma enquanto mulher preta foi desafiador para minha vida. E eu sou muito grata ao Caprichoso. É muito bom a gente bradar dentro e fora da arena. E é isso que a gente vem fazendo no festival de Parintins”, disse.
Orlan  Bertrand que representa o Pai Francisco há dois anos no Boi Garantido, ressalta a importância em valorizar os personagens pretos na história do Boi-bumbá. Ele acredita que ainda há muito o que conquistar no Festival Folclórico de Parintins.
“Eles são fundamentais, porque são deles que se inicia a história, que vem todo o resto. Ainda falta muito para alcançar o ideal a partir de que o boi valorize ainda mais a negritude, que ela não seja só em tempos de festival, mas o ano todo pois o festival termina e o racismo se perpetua. Precisamos intensificar a valorização do negro”, Afirmou.
Fábio Modesto também interpreta o Pai Francisco no boi Caprichoso. Ele destaca o protagonismo crescente aos personagens, dentro do espetáculo. [caption id="attachment_30588" align="aligncenter" width="1280"] foto: Divulgação[/caption]
“Quando a gente para e pensa quanto esse personagem é importante, depois passou a ser um personagem engraçado é incrível. Agora já tem um cuidado em tratar desse personagem negro em trazer o valor dele não com retratação de sofrimento mais de valorização é isso que o boi de Parintins mostra” disse.