MPF recomenda extinção de cargo municipal com atribuição sobre território indígena em Barreirinha (AM)
A medida atende à representação de lideranças Saterê-Mawe, encaminhada ao MPF pela Câmara Municipal de Barreirinha
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou à Prefeitura e à Câmara Municipal de Barreirinha, que não promovam eleição ou nomeação para o cargo administrativo de presidente distrital com atribuição sobre a área da Terra Indígena Andirá-Marau, habitada pelo povo Saterê-Mawe. O MPF requer, ainda, que o cargo administrativo seja extinto, de forma a preservar os costumes e o direito à autodeterminação dos povos indígenas.
A medida atende à representação de lideranças Saterê-Mawe, encaminhada ao MPF pela Câmara Municipal de Barreirinha. Em outubro de 2023, representantes da comunidade pediram à Casa Legislativa a desvinculação do território tradicional do distrito de Ponta Alegre, incluindo suas formas de eleição e administração. Segundo os indígenas, o sistema de representação distrital adotado pelo município tem impactos diretos na organização política e social do povo originário.
O cargo de presidente distrital foi instituído pela Lei Orgânica do Município, editada em 1990. A norma organizou o território de Barreirinha em agrovilas e distritos, com administradores próprios, eleitos pelo voto direto e secreto da população para um mandato de dois anos. O problema, segundo o MPF, é que a nova divisão administrativa incluiu áreas pertencentes à Terra Indígena Andirá-Marau, homologada quatro anos antes, em 1986.
A aldeia de Ponta Alegre foi convertida em distrito, ficando sujeita ao novo sistema político. Segundo a lei a municipal, qualquer eleitor residente no distrito, seja indígena ou não, pode candidatar-se a administrador ou membro do Conselho Distrital. Para as lideranças Saterê-Mawe, porém, a existência de um presidente distrital dentro de território indígena afeta as tradições do povo originário, gerando problemas sociais e culturais.
A Prefeitura e a Câmara Municipal de Barreirinha têm prazo de 15 dias para informar ao MPF sobre o acatamento, ou não, da recomendação. O documento também foi enviado à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para a adoção de medidas no âmbito de suas atribuições.
Fonte: Ministério Público Federal